sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O que aprendi com o Lobo Solitário.



Este ano finalmente terminei de ler o último volume do clássico mangá (quadrinho japonês) Lobo Solitário, escrito por Kazuo Koike e desenhado por Goseki Kojima, lançado aqui no Brasil em 28 volumes pela Editora Panini Comics. Confesso que sempre tive um pé atrás com mangás, principalmente por ter que ler de trás pra frente, e antes que vocês achem que eu sei ler japonês, as revistas são publicadas desta forma para baratear a produção, pois inverter o formato encareceria demais o lançamento no ocidente, portanto elas tem o sentido oriental de leitura, mas são todas traduzidas para o português. O Lobo Solitário conta a história de Itto Ogami, uma samurai que exercia a função de executor do Xogum, um dos três cargos mais importantes do Japão Feudal. Traído pelo clã Yagiu, que desejava aumentar ainda mais seu poder, teve sua mulher morta e ainda por cima ficou com um filho recém nascido. Ele decide então virar um Ronin, samurai errante, e seguir o caminho do Meifumadô, inferno budista, junto ao seu filho Daigoro. Além de mostrar a triste sina destes dois trágicos personagens, o mangá trata de dois assuntos que perderam muito do seu real significado atualmente, honra e lealdade.

Os samurais seguiam à risca o Bushidô, seu código de conduta, e se necessário morriam por ele. Ter honra era um assunto sagrado e quem desonrasse alguém ou algo deveria cometer o sepukku, suicídio. Além disso, os autores mostram um conhecimento profundo do Japão feudal reconstituindo a época nos mínimos detalhes e construindo uma história repleta de reviravoltas emocionantes. Eu acho que não precisamos seguir nenhum código rígido de conduta como o dos samurais, sermos as pessoas mais certinhas do mundo ou abrir uma ong, acredito que apenas sendo corretos dentro do nosso círculo de relacionamentos – amigos, familiares, colegas de trabalho – daremos um grande passo para construirmos um país melhor, principalmente ensinando atitudes corretas para nossos filhos. Voltando ao Lobo Solitário, é exatamente isso que Itto Ogami ensina ao seu filho Daigoro desde pequeno.

Uma das cenas mais marcantes acontece quando ele deixa o garoto de 4 anos, cuidando sozinho de duas espadas que servirão para finalizar o duelo entre Itto e seu nemêsis Retsudô Yagiu. O menino enfrenta intempéries, refugiados de uma enxente, uma carroça desgovernada, mas impede que todos cheguem perto das espadas. A lição que aprendi relembrando desta cena é, dar responsabilidade à criança desde cedo, pois ela um dia será um adulto. Obviamente que a obra exagera, pois o pai só adotou esta atitude extrema, sabendo que teria pouco tempo de vida e que seu filho enfrentaria sozinho um mundo violento e cruel. Mas, guardando as devidas proporções, será que nossos filhos enfrentarão desafios diferentes?


Pra finalizar, recomendo o filme “O Último Samurai” com Tom Cruise e Ken Watanabe, apesar de não gostar do final clichê e forçado, o filme mostra com competência a faceta do samurai honrado.




Texto publicado originalmente em 13/02/2008 no site http://www.nossanoite.com.br/divadomasini/