quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Poder solar


Super-heróis no Brasil nunca deram certo. Sempre funcionam mais como paródia, porque soa ridículo um cara com cueca pra fora da calça voando sobre São Paulo, por exemplo, embora em Nova York aceitemos isso como uma atividade corriqueira e perfeitamente normal. Infelizmente cada país merece a Liga da Justiça adequada ao seu perfil. A nossa, comandada pelo "Batman", está presa em Bangu I.

No mês de julho tive a grata surpresa de ler a HQ “Solar – Renascimento” do roteirista mineiro Wellington Srbek, que criou o personagem em 1994. Os desenhos da edição são de Rubens Lima e a editoração e o letreiramento ficaram por conta de Dênio Takahashi.

Esta HQ tem o intuito de reapresentar a origem do herói de forma mais contemporânea possível. A ação acontece na cidade de Belo Horizonte. O jovem Gabriel Ribeiro visita a Gruta da Água Funda e após tocar num desenho rupreste representando um Sol, tem um desmaio que mudará sua vida pra sempre.

Por se tratar de uma trama de origem a história mexe com o passado de Gabriel e sua mãe. É aí que reside o mistério para os seus poderes, na verdade poder, o poder de voar. A história tem uma boa fluência, mas poderia ser melhor se tivesse mais páginas.

Não que os autores não tivessem vontade, mas por se tratar de uma produção independente, existem os limites financeiros que impedem a produção de uma Graphic Novel, um formato justo para esta obra.

O que Solar tem de diferente dos outros heróis nacionais? Ele tem um pé calcado na realidade. É um cara comum como Peter Parker, mas que não precisa de um uniforme, ao menos por enquanto, porém precisa trabalhar para pagar as contas. Seus poderes são de origem mística indígena, o que liga o herói a cultura nacional, inclusive valorizando-a.

Os desenhos são bem feitos e lembram os traços de Joe Madureira e Ale Garza, porém sem os exageros anatômicos comuns aos trabalhos desses desenhistas. A produção do álbum também é cuidadosa, com capa em couchê, miolo em off set com boa gramatura e sem erros de português. A logomarca de Solar também é bonita apesar de lembrar a campanha contra o câncer de mama, tem tudo a ver com a proposta do herói.

O único senão fica para o final aberto, que deixa os leitores ansiosos para a próxima edição, que infelizmente não sabemos quando sairá. Mas o que me deixa mais perplexo é o fato de nenhuma editora se interessar em lançar Solar, mesmo que seja numa coletânea, já que todos os meses quilos de papel são desperdiçados com histórias ruins de super-heróis americanos, sem falso ufanismo. Solar tem capacidade para voar mais alto, basta o impulso necessário.

Solar: Renascimento – Preço: R$ 5,00 – Roteiro e edição: Wellington Srbek – Desenhos e Arte-Final: Rubens Lima – Letras e Editoração Eletrônica: Dênio Takahashi – Para adquirir basta enviar um e-mail para wellingtonsrbek@ig.com.br.