quarta-feira, 20 de maio de 2009

De quem é a culpa afinal?

No seu livro "Desvendando os Quadrinhos" (M. Books, 2005) Scott McCloud define histórias em quadrinhos como: imagens pictóricas e outras justapostas em sequência deliberada destinadas a transmitir informações e/ou produzir uma resposta ao espectador. Em nenhum momento foi dito que os quadrinhos são a melhor forma de alfabetizar uma criança ou que revistas em quadrinhos são destinadas apenas ao público infanto-juvenil.


Para pessoas como eu que leêm quadrinhos a décadas, é notório que existem quadrinhos para todos os tipos de gostos, infantis, juvenis, adultos, políticos, biografias, humorísticos, eróticos, didáticos, enfim, uma miríade de opções.

Entretanto algumas pessoas ainda acham que por se tratar de histórias em quadrinhos, os mesmos devem ser recomendados para crianças.

Foi o que fez o responsável por identificar e indicar livros para o projeto do governo que prevê a compra de livros para auxiliar na alfabetização de alunos do ensino fundamental. Ele avaliou o livro "Dez na Área, Um na Banheira e Nenhum no Gol.", como sendo benéfico para os alunos do sexo masculino da 3ª série do ensino fundamental, que tem em sua maioria 9 anos de idade, pois tem como tema principal o futebol.

Ele só se esqueceu de verificar o conteúdo com um critério maior, pois das 11 histórias que compõem o álbum, três apresentam conteúdo inadequado para crianças nessa faixa etária.

A culpa é da editora, dos criadores, das histórias em quadrinhos ou da Secretaria de Educação? De nenhum deles. Apenas houve um erro de avaliação por parte do responsável pela seleção dos livros. O problema inclusive já foi solucionado e o Secretário da Educação do Estado de São Paulo, Paulo Renato de Souza, disse em entrevista ao Programa Boa Tarde da Band, que nenhum aluno chegou a ter contato com o livro.

Ao invés de perderem mais tempo com esse assunto que para mim não tem importância nenhuma, porque é que pais, órgãos de imprensa, professores e autoridades, esqueçam esse assunto e lembrem de melhorar a qualidade de ensino, treinar melhor os professores, contratar melhor os professores, impedir que a violência entre na escolam, enfim, que trabalhem em prol da educação.

O Governador José Serra inclusive cometeu um equívoco ao dizer em entrevista que o álbum era de extremo mau gosto, desconsiderando o trabalho de artistas renomados no mercado como Caco Galhardo, Spacca, Allan Sieber, Fábio Moon e Gabriel Bá. Se a questão era justificar um erro da sua administração, que procurasse primeiro apurar os fatos e não simplesmente jogar a culpa na obra em questão, que serve sim para muitas pessoas e talvez até poderia ser remanejado para alunos do Ensino Médio.

Em alguns casos específicos, existem crianças que acham o palavreado recheado de palavrões das três histórias em questão, leves demais, pois todos os dias vêem coisas muito piores na comunidade onde vivem. Esse tipo de realidade os governantes costumam evitar. É mais fácil falar mal da HQ.

Imagens: Google.

Um comentário:

Maria Angélica disse...

Eu também fui "alfabetizada" por HQ. Da Disney - depois me dei conta e passei a ler Maurício. No colégio também aprendíamos a interpretar quadrinhos. A autora dos nossos livros era a Magda Soares (não tenho certeza desse sobrenome, faz muuuuuiiito tempo).
Aí, como todo mundo evolui, além desses, passei a ler os mais adultos e os de super-heróis.
Com os gibis que eu lia até os 11 anos, apredi a escrever corretamente, fazer concordâncias, o que significavam notas no pé da página, expressões latinas, e , claro, cultura geral .
Minhas filhas nunca foram incentivadas na escola; em casa é que pegaram o (ótimo) hábito.
[Ahhh, quase que participei da revista Hermétika (argumento e desenho) - durou pouco tempo - , eu seria a única mulher naquele universo] .
É por isso que digo e repito , a respeito deste governo: "quanta ignorância!" :0((